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Entre erros e acertos, permanece a necessidade de aperfeiçoamento

Anulações de gols em CAM x Botafogo e em Palmeiras x Vasco expõe erros e acertos da arbitragem

A anulação do gol marcado por Diego Costa, aos 43 minutos do segundo tempo da partida disputada entre Atlético Mineiro e Botafogo, no último sábado, pela 23ª rodada do Brasileirão, teve significativa repercussão na imprensa, foi objeto de severas e semelhantes críticas por parte de dirigentes e jogadores botafoguenses, e mantém viva a discussão acerca da divergência de decisões da arbitragem em jogadas semelhantes.

As razões apontadas pelos críticos da decisão do árbitro Ramon Abatti Abel consistem na ausência de interferência de Diego Costa no cruzamento que antecedeu o rebote realizado pelo zagueiro Maurício Lemos, do Galo, e que devolveu a bola nos pés do centroavante botafoguense, permitindo-lhe marcar aquele que seria o gol de empate do Glorioso.

Entrevistado ao final da partida, o centroavante não poupou críticas à arbitragem e até apontou a existência de um suposto conluio no sentido de prejudicar o Botafogo e permitir a aproximação dos adversários na tabela, ao dizer “Está claríssimo que foi gol legal. (...) Sabemos que para a competição ficar mais atrativa tem que deixar o Botafogo mais próximo dos adversários". Ao explicar as razões de sua discordância com a anulação, argumentou "Eu estava fora de jogo sim, mas em nenhum momento eu interferi na jogada”.

Imagens divulgadas pela imprensa no final da partida mostram o técnico Bruno Lage caminhando apressadamente na direção dos vestiários e proferindo críticas incompreensíveis, que somente foram esclarecidas durante a coletiva pós-jogo, quando o técnico endossou as acusações de Diego Costa, dizendo que “dá sensação que se quer que o campeonato continue animado até o fim”.

Antes do técnico, o diretor de futebol do clube, André Mazucco, já havia amplificado as críticas do jogador e do técnico, quando pediu respeito ao clube e defendeu que “quem deveria estar ali dando explicações seriam o árbitro, o assistente do VAR e o bandeirinha”, por cometerem “um erro tão grosseiro” num impedimento que, segundo ele, não foi marcado em favor do Botafogo no lance do primeiro gol do Flamengo, no clássico da rodada anterior.

As repercussões do caso não se restringiram à entrevista pós-jogo, mas perduram desde então, já que a Associação Brasileira de Árbitros de Futebol do Brasil (ABRAFUT), em nota publicada nesta segunda-feira, 18/09, externou toda sua indignação com as críticas botafoguenses, rechaçou-as de modo veemente, ratificou a correção da anulação do gol e informou que ingressará com nota de infração contra o Botafogo junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva - STJD (confira a nota).

Em oposição às críticas unânimes dos botafoguenses, as análises dos comentaristas de arbitragem sobre a jogada – dentre os quais se destaca Paulo César de Oliveira – foram igualmente concordes em confirmar o impedimento do atacante, e todos os ex-árbitros recorreram ao mesmo fundamento, isto é, o de que o autor do gol “ganhou vantagem de sua posição de impedimento, uma vez que o rebote feito não configura uma nova fase de jogo, porque o zagueiro não tinha o controle da bola”.

Considerada a péssima apresentação do alvinegro carioca na partida, apontada por muitos como a pior do time no campeonato, e na qual teve apenas dois chutes a gol em todo o jogo – um de Luis Henrique, com fácil defesa de Evérson, e outro, no gol anulado de Diego Costa –, não se sustenta a atribuição do resultado negativo à anulação do gol pela arbitragem, já que, como dito pelos comentaristas, ela retrata a mera aplicação da chamada Regra 11, da International Football Association Board (IFAB), que trata do impedimento.

No item 2 da regra em questão, denominado “Infração de Impedimento”, está previsto que “não se considerará que um jogador em posição de impedimento obteve vantagem quando receber a bola de um adversário que tocou deliberadamente nela, incluindo com um toque de mão deliberado, a menos de que se trate de uma defesa deliberada do adversário”.

Dessa forma, se o jogador em posição de impedimento receber a bola do adversário mediante passe intencional deste – como ocorreu, por exemplo, na final da Copa de 2014, quando Gonzalo Higuain, sozinho atrás da zaga, recebeu bola cabeceada por Tony Kross e chutou para fora – não haverá impedimento, posto que o passe vindo do adversário não configurou uma “defesa deliberada”.

Vê-se que o ponto crucial da questão repousa sobre a definição do que seria "defesa deliberada", por sua aptidão de afastar a exceção à obtenção de vantagem da posição de impedimento pelo jogador que recebe a bola em razão de passe, equivocado mas deliberado, de um adversário.

Assim, a defesa deliberada ocorre “quando um jogador para ou tenta parar uma bola que se dirige para o interior da meta ou para muito próximo dela com qualquer parte do corpo exceto as mãos ou os braços, a não ser que (seja) o goleiro (e) esteja dentro da área penal”.

Portanto, como Diego Costa estava em posição de impedimento no momento em que Luis Henrique cruzou para a área e, logo depois do rebote dado por Maurício Lemos, mesmo não mais estando na posição de impedimento, recebeu a bola e concluiu para as redes, ficou configurada a chamada obtenção de vantagem da posição de impedimento, já que a ação do zagueiro atleticano se enquadra como uma defesa deliberada e não representou novo lance.

Verifica-se, também, que a caracterização da defesa deliberada independe da interferência ou não do jogador no lance, o que torna insubsistente o argumento trazido por Diego Costa na entrevista pós-jogo, quando reconheceu estar em posição irregular na origem da jogada mas nela não ter interferido, o que realmente se confirma pelas imagens do lance.

Inclusive, quanto à ausência de “controle da bola” e de “nova jogada” no rebote do zagueiro do Galo, o ex-árbitro Paulo César de Oliveira informa que “de acordo com a regra, quando a bola se move pelo ar e o defensor não tem o movimento controlado, coordenado nem o controle da bola, não caracteriza como uma nova origem. Portanto, a bola foi desviada pelo zagueiro do Atlético-MG e o Diego Costa obteve vantagem da posição que ele se encontrava. O gol foi bem anulado e a arbitragem acertou”.

O ex-árbitro já havia se posicionado no mesmo sentido, porém, na ocasião, discordou da anulação do gol de Paulinho na derrota do Vasco para o Palmeiras, pela 21ª rodada, o qual seria um golaço que inauguraria o placar e, depois, daria o empate ao cruzmaltino.

A anulação do tento pela arbitragem na ocasião se deu sob o fundamento de que a posição de impedimento de Vegetti na origem do lance não poderia ter sido analisada pelo VAR, uma vez que, após o rebote dado pelo zagueiro Murilo nos pés do atacante vascaíno, este não fez o gol e, portanto, não obteve vantagem da situação de impedimento, todavia, ao tocar a bola para o meio da área e esta ter sido afastada para longe por Richard Ríos, ficou caracterizado novo lance, pois o colombiano tinha o controle do próprio movimento e também da bola.

Em oposição à opinião de Paulo César de Oliveira, a Comissão de Arbitragem da CBF, comandada pelo também ex-árbitro Wilson Luis Seneme, ratificou a anulação do lance pelo árbitro Wilton Pereira Sampaio sob a alegação de que Richard Ríos estava sob pressão quando afastou a bola, que a bola afastada ficou ao redor da área do Palmeiras e que foi dominada por jogador do Vasco e não do alviverde imponente.

Sem desconsiderar a excessiva subjetividade exigida na interpretação dos lances acima, concordo com a opinião de Paulo César de Oliveira nos dois casos, entendo que regras dotadas de conceitos de difícil aplicação prática, como essa da defesa deliberada, devem ser interpretadas no sentido de tornar mais prazeroso o futebol, e observo que a atuação da arbitragem nos lances em questão retrata a necessidade, antiga e recorrente, de melhor qualificação e maior uniformidade de atuação de árbitros e assistentes, não apenas nas decisões autônomas, mas também, naquelas resultantes da correta utilização do VAR, instrumento indispensável para a elucidação de lances controversos e decisivos das partidas.

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