Secretário James Rodrigues explica tratamento da Covid-19 implantado em Floriano

Em entrevista, secretário de Saúde conta como Floriano se tornou destaque no combate à pandemia.

O município de Floriano (PI) tem sido uma referência para o Piauí e para todo o Brasil quando o assunto é o combate ao novo coronavírus. A doença, que tem registrado mais casos a cada dia, tem sido enfrentada de forma diferenciada no município, que até a noite deste domingo (17), possuía apenas 38 casos confirmados de Covid-19 e nenhum óbito. No município, pelo menos 1.600 testes rápidos já foram realizados.

Em entrevista exclusiva ao Rota 343, o secretário municipal de Saúde, James Rodrigues, falou sobre o protocolo adotado na cidade e também a forma como a pandemia tem sido enfrentada. Ele aproveitou a oportunidade para destacar que é necessário repensar a forma de enfrentamento ao Covid-19.

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“Até o momento, nós temos enfrentado o coronavírus só do ponto de vista de respiradores, mas nós já vimos que isso não é a solução. Nós precisamos provocar o diálogo aprofundado, livre de ideologias político-partidários, para podermos construir um caminho juntos.”

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Confira as demais declarações do secretário abaixo:

Rota 343 - Até o momento, o que Floriano já adotou de medidas para combater o novo coronavírus?

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“Desde o início, nós buscamos fazer ações que fossem efetivas. No Brasil, nós vimos muitas ações pirotécnicas, que são mais para dar uma satisfação do que para serem efetivas, e aqui em Floriano nós demos ênfase nas medidas que trouxessem mais resultados. É natural que em uma pandemia como essa, onde não se tem muita certeza, mas é preciso bom senso, foco, e sobretudo missão em cuidar das pessoas para que possam adotar as melhores medidas.

Até o momento, nós recebemos cerca de R$ 1,7 milhão do Governo Federal. Esse recurso é para o enfrentamento da pandemia, e parte desses recursos, 1 milhão e 50 mil, nós destinamos para ampliar leitos clínicos no Hospital Regional Tibério Nunes, mesmo o hospital sendo gerenciado pelo Governo Estadual. O enfrentamento da pandemia deve ser feito de forma integrada.

Além disso, em meados do dia 13 de abril, nós já iniciávamos as tratativas com a Dra. Marina Bucar, que é florianense e trabalha em um hospital de Madrid. Ela, juntamente com um grupo de profissionais da Espanha e da Itália, desenvolveram um protocolo de tratamento precoce do coronavírus e que tem dado muito resultado na Espanha. A partir dessa vivência, desses resultados clínicos obtidos na Espanha, nós realizamos a implantação desse protocolo aqui na cidade de Floriano. Por isso, desencadeou toda essa repercussão nacional.”

Rota 343 - Floriano está seguindo o protocolo criado pela Dra. Marina Bucar. Como vocês tiveram conhecimento desse tratamento, e por que decidiram adotá-lo, mesmo sem ter estudos que comprovem com 100% de certeza a eficiência da cloroquina?

“A Dra. Marina é florianense, e tivemos a honra e o privilégio de ter uma florianense que trabalhou no epicentro da pandemia na Espanha, e lá adquiriu o conhecimento, a vivência e a experiência necessária para o enfrentamento da pandemia. Ela, querendo contribuir com o seu país, seu estado e sua cidade, compartilhou com Floriano o tratamento aplicado lá. O que, infelizmente, acontece hoje no Brasil, é que a política de enfrentamento ao coronavírus tem sido tratada como uma doença de tratamento hospitalar. Para o Ministério da Saúde e em várias outras cidades, a recomendação é: fique em casa, e se tiver insuficiência respiratória, procure o hospital.

O problema dessa conduta é que, quando a pessoa vai ao hospital, ela já está com a função pulmonar comprometida e dificilmente, quando são internadas na UTI, conseguem retornar para sua família.

O protocolo de Floriano, que é uma adaptação do protocolo de Madrid, criado pela Dra. Marina, prega o contrário. Ele estabelece aquilo que é feito para outras doenças. Em qualquer doença que nós temos, qual a recomendação médica? Iniciar o tratamento precoce. Em Floriano, nossa recomendação é: fique em casa, se tiver sintomas de gripe, febre, dor de garganta, diarreia ou qualquer sintoma característico do coronavírus, procure a Unidade Básica de Saúde Funasa, que é a referência do município na Atenção Básica para o tratamento precoce dessa doença.

Então, a grande discussão que é preciso levar em conta é: qual o papel da atenção básica nessa pandemia? No Brasil inteiro, não havia sido despertado ainda para o tratamento precoce. E esse é justamente a sacada de Floriano, a disposição em adotar esse protocolo. Esse protocolo leva em consideração a separação da doença em três fases. A fase 1 é tratada a nível domiciliar, através da Unidade Básica de Saúde, e as fases 2 e 3 é tratada a nível hospitalar, e só dá certo porque há uma integração entre a Secretaria Municipal de Saúde, Hospital Regional Tibério Nunes e entre a Unidade Básica de Saúde.”

Rota 343 - Pode explicar detalhadamente como é o tratamento com a cloroquina?

“A doença possui três fases. A fase 1 é chamada de fase inflamatória. Nesta fase, o paciente de Floriano procura a UBS Funasa, onde ele vai realizar exames laboratoriais, que são coletados na própria Funasa. Também é realizado o eletrocardiograma para verificar a existência prévia de qualquer cardiopatia e também, se houver prescrição médica, ele realiza uma tomografia, com resultado em duas horas, sem passar por qualquer fila de espera. Depois de realizar os exames, o médico faz a avaliação dos resultados, e faculta ao usuário a possibilidade dele iniciar o uso do kit com cloroquina e azitromicina de forma precoce nos primeiros sintomas da doença. Ele faculta esse uso, pois o médico explica para o paciente quais são os benefícios e também as contraindicações da doença, de forma que esse tratamento implantado em Floriano não é obrigatório. Aquela pessoa que não deseja realizar esse tratamento, não tem nenhuma obrigatoriedade de fazê-lo, e continuará a ser monitorado em casa, sem qualquer tipo de medicamento. Então, o que nós apresentamos aqui em Floriano é uma oportunidade para que as pessoas que desejam, possam realizar o tratamento de forma precoce.

A fase dois é quando a pessoa já tem uma função pulmonar comprometida. Ela já apresenta uma saturação de oxigênio abaixo de 90, e precisa ser tratada a nível hospitalar, e ai entra o Hospital Regional Tibério Nunes. Nessa fase, o paciente recebe, através da aplicação de corticoides na veia, que é chamada de pulso terapia, e também de anticoagulantes, que ajudam na recuperação e diminuem o tempo de internação, liberando assim os leitos e evitando um colapso no sistema hospitalar.

A terceira fase da doença é aquilo que temos vivenciado em pacientes vindos de outras cidades. Eles já chegam com a função pulmonar mais de 50% comprometida, é necessária a sua intubação para o tratamento e a internação no leito de terapia intensiva. Mas, até agora, o que nós observamos é que pela chegada desse paciente em nível três, até agora não obtivemos êxito e ninguém voltou na UTI. Isso ressalta a importância do tratamento precoce da doença.

Em Floriano, nós usamos hoje a cloroquina e a azitromicina, mas se amanhã existir outros medicamentos que traga o resultado que foi obtido em Madrid, nós estamos dispostos a adotar essa medicação, pois nós não defendemos a medicação, e sim o tratamento. Nós defendemos a oportunidade de salvar vidas, que é o que mais importa nesse momento.”

Rota 343 – Pacientes graves também são tratados com a cloroquina?

“Com cloroquina, não. Nós não fazemos o uso da cloroquina em pacientes com estado grave. Nesse caso, a medicação usada é outra. É a aplicação de corticoides e anticoagulantes.”

Foto: Prefeitura de Floriano/DivulgaçãoJames Rodrigues, secretário de Saúde de Floriano (PI).
James Rodrigues, secretário de Saúde de Floriano (PI).

Rota 343 - Você acha que essas medidas que já foram tomadas e as melhorias na saúde, são o suficiente? Tem algo que você faria diferente, caso pudesse fazer de novo?

“Até o momento, eu não faria nada de diferente. Floriano foi uma das primeiras cidades do Brasil a determinar o uso de máscara, e hoje, quando saímos pela cidade, vemos que praticamente todas as pessoas fazem o uso da máscara. Nós adotamos um protocolo que tem dado certo, pois até hoje nós não tivemos nenhum óbito em Floriano, e de todos os pacientes tratados de forma precoce, nenhum evoluiu para a fase aguda da doença, para leitos de UTI. Nós não temos a medida perfeita, mas nós temos uma alternativa que tivemos coragem de implantar, e é isso que o florianense pode esperar é justamente essa coragem e essa determinação para aperfeiçoar esse protocolo ao longo do caminho, pois para nós o que mais importa é salvar vidas.”

Rota 343 – Quantos leitos para tratamento de pacientes com Covid-19 o município tem hoje?

“Mesmo não sendo uma obrigação originária do município, mas desde o início o prefeito Joel tem enfrentado essa pandemia de forma integrada, a Prefeitura Municipal de Floriano destinou R$ 1,050 milhão para o Hospital Regional Tibério Nunes. Com esse recurso, foi possível contratar 50 leitos clínicos em clínicas e hospitais particulares de nossa cidade, a um preço menor do que o preço fixado pelo SUS. Para você ter uma ideia, o preço desse leito é de R$ 233,33 e isso está incluso medicação, despesa com hotelaria, oxigênio, alimentação do paciente e do acompanhante, e isso mostra a eficiência com que esses recursos foram aplicados. Graças a essa parceria, o Hospital Regional Tibério Nunes, que antes só tinha 15 leitos clínicos destinados para o Covid-19, passou a ofertar 50 leitos clínicos, e com isso, nós asseguramos a ampliação em quase em 300% do número de leitos ofertados. Isso mostra um caminho, mostra a capacidade de integração e o compromisso de quem tem realmente a intenção de salvar vidas.”

Rota 343 - Por que o município não usa os postos de saúde para fazer testes de Covid-19 e acompanhar os mesmos, diminuindo os deslocamentos e aglomeração no Hospital Regional Tibério Nunes?

“Neste momento, a nossa disposição é aumentar sempre que houver necessidade. Hoje nós temos uma única unidade básica de referência porque até o momento, essa unidade tem sido suficiente para atender todos os pacientes que procuram o serviço médico ao sentir os primeiros sintomas. Naturalmente, o que a população florianense pode esperar é que, havendo aumento na procura, nós não mediremos esforços para que uma segunda unidade básica de saúde possa ser destinada exclusivamente para o atendimento da Covid-19. Por que todas as unidades não estão atendendo pacientes com síndromes gripais em Floriano? Porque se nós ampliássemos isso para todas as unidades, nós teríamos muitos pontos de contaminação, correndo o risco de fechar serviços. Então, é preferível que se comece com um e a ampliação aconteça de acordo com a demanda.”

Rota 343 – A Secretaria de Saúde tem uma estimativa de quantos pacientes com covid-19 serão atendidos até o fim do ano?

“Não é possível estabelecer esse número, porque isso depende diretamente do isolamento social, do comportamento da população na adoção de medidas sanitárias, e também é importante deixar claro é que, mesmo havendo esse tratamento precoce, esse protocolo implantado em Floriano, as pessoas não podem se descuidar. Elas precisam continuar usando as máscaras, precisam continuam em isolamento domiciliar, saindo de casa somente quando é extremamente necessário, precisam continuar adotando as medidas sanitárias, fazendo a higienização das mãos. Cada dia que passa é muito importante para aperfeiçoarmos o processo de tratamento do coronavírus e eu não tenho dúvidas que Floriano está no caminho certo, justamente por adotar de forma precoce todas essas medidas.”

Rota 343 - Você acredita que população já está conscientizada o suficiente?

“Eu acredito que a população florianense abraçou 100%, e uma prova disso é o uso de máscaras. Eu não tenho dúvidas do compromisso da população com o enfrentamento coletivo dessa pandemia.”

Rota 343 - Quais mudanças você entende que o sistema de saúde do município terá permanentemente, considerando as melhorias feitas por conta do novo coronavírus?

“Um ponto essencial foi justamente a diminuição das filas. Diminuiu o tempo de espera para realizar um exame de alta complexidade, como é o caso da tomografia. No percurso normal, uma tomografia e uma ultrassonografia, no SUS, não somente em Floriano, mas em todo o Brasil, leva mais de 30 dias para ser realizada. Hoje, na nossa unidade básica de referência, o paciente é encaminhado imediatamente para realização desse exame, e duas horas após a realização, nós já temos o resultado. O que fica de experiência é justamente isso, a capacidade de encurtar o tempo e fazer com que o diagnóstico chegue mais rápido e o tratamento da doença se inicie o quanto antes, porque é algo que todo mundo conhece, que quanto mais cedo iniciar o tratamento, maiores são as chances de recuperação do paciente.”

Rota 343 – Floriano recebeu na semana passada a visita da ministra Damares Alves. O que essa visita representa para o município?

“Muitas pessoas falam e outras pessoas agem. No Brasil, infelizmente, a adoção das medidas de enfrentamento a pandemia saiu do campo administrativo e foi para o campo político. Nós temos uma divisão muito clara das pessoas que são favoráveis ao Bolsonaro e as que são contra o presidente. O que a ministra Damares veio fazer em Floriano foi um gesto muito claro de buscar um caminho. Ninguém sabe, ninguém tem certeza, o que temos são muitas incertezas, e o que ela fez foi justamente apoiar a iniciativa clínica que está dando certo. Quem sabe, a partir daí, outras cidades também irão implantar essas medidas e aperfeiçoa-las e, o Brasil junto, unido, construa uma solução rápida para a crise. Pouco importa quem é o dono da ideia, o mais importante é os efeitos, os benefícios que esse protocolo possa trazer para a população florianense e a população brasileira como um todo.”

Durante a entrevista, o secretário aproveitou para esclarecer uma informação, que foi divulgada de maneira que gerou dúvida na população após a entrevista coletiva da ministra. Em sua fala, Damares destacou o baixo custo do protocolo implantado em Floriano. Porém, sendo o secretário, não é possível precisar ainda o custo do tratamento por paciente. Segundo ele, o kit de medicamentos para a primeira fase da doença custa cerca de R$ 40,00 e para a segunda, aproximadamente R$ 100,00. Porém, ele destaca que, além desses custos, existem os gastos com os profissionais de saúde, exames médicos, aquisição de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), entre outros. Apesar disso, ele afirma que tratar os pacientes de maneira domiciliar sempre é mais barato do que tratar de forma hospitalar.

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