Arquivo Pessoal

José Paraguassú

Escritor, músico, compositor, poeta e membro da ALBEARTES - Academia de Letras e Belas Artes de Floriano e Vale do Parnaíba, repórter correspondente do Jornal SP em Notícias e membro da ABRAMUS Associação Brasileira de Música e Artes.

Trem do Sertão

Como bom discípulo nordestino, José Paraguassu não poderia começar o álbum de
maneira melhor se não, pedindo a benção a Seu Lua! A primeira faixa intitulada “Luiz”
relembra e homenageia o rei do baião, Luiz Gonzaga. A letra da canção é recheada de
referências a figuras poéticas presentes nas músicas do repertório de Gonzaga, assim como o
ritmo dolente e um acompanhamento instrumental tradicional de forró pé-de-serra que nos
remete imediatamente ao homenageado.
A segunda faixa intitulada “Mãe” é uma balada jovem guarda com um tempero dos
“Incríveis”, já mostrando que iremos passear por vários climas e texturas nessa experiência
musical. A letra narra um embate familiar de um jovem transgressor nos costumes para a sua
época (lendo-se de maneira anacrônica), que movido por uma paixão avassaladora enfrenta
tudo para estar junto da amada.

A terceira faixa intitulada “Boi valente” é um baião pesado, narrando a história da jornada
de herói de um vaqueiro valente, personagem este emblemático no folclore e no imaginário da
cultura nordestina. É muito simbólico como o eu lírico apresenta fascínio e paixão por essa
figura.
A quarta faixa intitulada “Trem do sertão” é a que dá nome ao álbum, é o trem que puxa
os vagões das músicas. Uma canção rock rural, à la Zé Geraldo, ou Sá e Guarabira, muito
bonita e imagética. A letra faz um paralelo entre a máquina locomotiva e a vida, a ideia de
movimento do trem e os ciclos que passam por nós nessa trajetória.
A quinta faixa intitulada “Desolação” é um xote lamento, a letra é carregada de aridez,
ilustra os cenários da seca no sertão e das agruras enfrentadas pelo sertanejo nos períodos
mais rigorosos de estiagem. Ainda, reforça a afirmação de Euclides da Cunha: “o sertanejo é,
antes de tudo, um forte”. A instrumentação minimalista (violão, sanfona e percussão) orna
perfeitamente a “escassez” trazida na temática

A sexta faixa intitulada “Pedindo um verso” é um baião xaxado com uma ótima condução
de sanfona. Na letra o eu lírico enamorado exalta a beleza e os encantos da amada e mais
uma vez encara todas as barreiras pra ficar junto dela porém, aqui num tom mais corajoso e
afrontoso.
A sétima faixa intitulada “Porteira” é uma balada com um tom mais reflexivo, uma parceria
de José com sua esposa e também poetisa Dina Paraguassu. O cenário da música nos
transporta para dentro de uma fazenda, onde novamente a figura do vaqueiro aparece, só que
dessa vez numa perspectiva de oprimido, além de revelar o lado mais sensível desse
personagem para além da imagem da força e coragem.
A oitava faixa intitulada “Bobeira” é um samba nos moldes daqueles paulistanos da
década de 50. Um salve a Adoniran Barbosa! Na letra que claramente faz referências ao
mestre, o eu lírico lamenta a partida da mulher amada, tudo isso num tom calhorda e leve
como fazia muito bem Adoniran.

A nona faixa intitulada “Me leva” é uma música soturna, marcada por acordes “escuros”.
Uma canção de êxodo, da trajetória de quem precisou sair do lugar de origem e agora carece
voltar. O eu lírico recorda imagens, momentos e sentimentos que por agora lhe provocam
saudades e nostalgia.
A décima faixa intitulada “Rio Parnaíba” é uma canção balada, homenageando agora o
velho monge, elevando ainda mais a beleza desse rio através da leitura poética e sensível de
cada imagem que o letrista elegeu para compor a letra. A canção também denuncia o descaso
com a preservação do rio, em um lamento contestador.
A décima primeira faixa e última do álbum intitulada “Galope sertanejo” é a única faixa
instrumental, entoada por um violão solo num clima mouro nordestino misterioso, não à toa
encerra essa sessão, é a coda, é o último ato de quem já disse tudo que precisava dizer, por
ora!
Clique para baixar o álbum completo.

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