Arquivo Pessoal

João Lucas

Técnico em segurança do trabalho, graduando em história pela Universidade Estadual do Piauí e autor do projeto "O Cenário Político Brasileiro: Debates acerca da cidadania e ideologias partidárias"

#EstilistaNãoDesigndeModaSim

Meus pais aceitaram melhor que eu.
Foto: João lucasCamena Rodrigues Guerra Pedrosa Ribeiro
Camena Rodrigues Guerra Pedrosa Ribeiro

Camaradas, hoje vamos trocar uma ideia bem abrangente, passando pela política externa, cultura e moda; pegando o gancho da semana de moda de Paris e Milão, ocorrida semana anterior. Hoje, temos como convidados para este bate-papo: Camena Rodrigues Guerra Pedrosa Ribeiro (@camenagp) (acadêmica de Moda, contendo bacharelado em Direito e possuidora de sonho deslumbrante que é constituir seu próprio ateliê de sapatos) e seus pais: Gilvânia Jane Rodrigues Guerra Petrosa Ribeiro (Comerciante) e Cézar Augusto Pedrosa Ribeiro (Economista), que segundo Cemena, apesar de todas as dificuldades e empecilho conseguiram pagar boas escolas e até mesmo um intercâmbio.

Quando indaguei se o intercâmbio é proveniente de subsídio governamental (bolsa), obtive a seguinte resposta: “Não, o intercâmbio, graças a Deus, né? Sou privilegiadíssima e muito! (risos) Lógico que não foi fácil, mas acho que ter condições de pagar um curso é privilegio, e de fazer um curso internacional, é tipo muito acima. Por mais dificuldades que se tem em fazer isso, sou muito, muito, muito privilegiada e graças a Deus eu pude! os meus pais puderam me auxiliar nisso”.

Efetivamente não é qualquer cidadão que contém o desejo de realizar intercâmbio, que consegue obter êxito nesta empreitada. De fato, mas há grande acréscimo na procura por parte dos Brasileiros para estudar na gringa. Segundo a reportagem G1 (2018), afirma que: “em dois anos, o número de intercambistas entre 18 e 21 mais que dobrou - de 40,2 mil, em 2015, para mais de 90,9 mil em 2017” e a pesquisa revela também “que uma antecipação na procura pelo intercâmbio. Em 2015, a faixa etária com a maior procura era entre adultos de 30 a 39 anos (23,8%)”.

Então se você é um desses que pretende realizar intercâmbio, a nossa majestosa entrevistada e designer de calçados nos revela um pouco sobre como se sucedia sua rotina em Londres:

“[...] Mas, falando um pouco, é muito comum nas universidades à fora, elas terem programas pra atrair alunos internacionais. E essa universidade que estive, tinham programas cujo onde pela parte matutina havia aulas de inglês e à tarde aulas em uma das áreas da moda, e ramificada a esses institutos, frequentei umas aulas de style, outras aulas de design mesmo, análise de tendência. Enfim, por fim houve uma que optei por realizar, que é de design de calçados, que é a área que mais me interessa. Sim, desta parte da criação (; ”.

Foto: desconhecidoCamena Rodrigues Guerra Pedrosa Ribeiro
Camena Rodrigues Guerra Pedrosa Ribeiro

Mas para que serve a moda mesmo? É somente um papinho de mulheres fúteis? O que é moda? No dicionário, moda é: “conjunto de opiniões, gostos, assim como os modos de agir, viver e sentir coletivos”. A mesma goza de grande relevância econômica, detém aferimento valorativo na sociedade e para cada um de nós de maneira pessoal; pois antes de qualquer coisa o que vestimos diz muito de quem somos ou quem gostaríamos ou queremos ser.

Economicamente dizendo, a moda é um dos setores globais nada módicos, desempenhando papel eficiente quando se trata de retenção de recursos materiais. Este setor está avaliado em US$ 3 trilhões e nos países em desenvolvimento, consoante ao Brasil, emprega mais de 57 milhões de pessoas. Com a falta do feedback da grande maioria da pulação sobre o tema, indaguei sobre como foi a reação dos seus pais, quando desistiu da profissão de causídica ou qualquer outra ramificação do curso de Direito para virar Design, e recebi a seguinte resposta:

”Então, acredito que outra questão de ser privilegiada é que meus pais aceitaram melhor do que eu quando decidi, sabe?(risos) Me apoiaram bastante, portanto, em casa mesmo, não foi uma questão difícil. Eu sei que ninguém nunca chegou para mim para dizer, mas sim teve alguns “nossa tinha tudo para ser uma ótima advogada, um futuro brilhante e vai fazer moda”.

E continua:

“Principalmente no nosso contexto social, existe muito preconceito de tudo o que não é advogado, médico e até mesmo engenheiro sofre preconceito de certa forma, sabe? Deve ter aquele papo do tipo “ninguém precisa de curso para construir uma casa, pedreiro constrói uma casa sem curso”. Acredito que há muito dessas questões, sabe? Eu acredito que o maior preconceito está ligado assim à moda, é porque a moda é muito relacionada aos produtos da própria moda  e os produtos são em predominância direcionado ao público feminino; a mulher e tudo que não é relacionado ao ‘’trabalho normal’’, são fúteis! Então, eu acredito que a gente cai nesse outro problema social, que é o machismo.”

Nesta fala, Camena aludiu que grande parte do que está relacionado à mulher é “secundário”, mas ressalta: que é obvio que uma roupa não tem a mesma importância que um médico, mas para o jaleco, pelo qual o mesmo se encontrará vestido, para se proteger, partiu da mente criativa e arrojada de um design de moda. Aquela camisa de frio, e que tal aquela camisa regata que você provavelmente esta usando neste calor infernal de 50 graus. Pois é, foram criadas por essas mentes fora da caixa, para lhe proporcionar maior conforto, bem-estar, estilo e afins.

Ainda vamos demorar a ver uma loja da nossa conterrânea pela Princesinha do Sul, em decorrência dela ainda pretender desbravar outros horizontes, adquirir experiências e daí sim, montar uma loja. Mas confessa que não será fácil, mas otimista ela diz que: “mercado há, e Floriano é um pouco mais complicado, um pouco mais difícil, mas em Teresina existem muitas marcas locais.’’

Foto: João lucascroqui
Croqui
Foto: João lucascroqui de sapatos
Croqui de sapatos
Foto: João lucascroqui de roupas desenhados por ela
Croqui de roupas desenhados por ela

Não aguardem desta jovem nada que seja caricata ou regionalista (clichê), a  pujante Design diz que apenas por ser filha da terra e utilizar os materiais daqui, “já é daqui.” O que faz total sentido, e isso está muito ligado aos estilistas a quais ela possui de referência. Pegando de relance e aproveitando o nuance (risos), resolvemos explanar mais sobre essas.

Começando pelos internacionais: Ìris Van Herpen(@irisvanherpen), holandesa, começou sua carreira com vinte e poucos anos, contendo comparações no mundo da moda com criadores absurdos como Alexander McQueen. Camena nos explica que sua inspiração internacional, faz com que à mesma produza roupas pelas quais não são convencionais. Segundo ela, é uma espécie de “ moda figurino ou uma roupa exposição”, usadas mais para shows e tapetes vermelhos.

“É um trabalho muito árduo modificar o tecido, a maneira pela qual ela modifica, é muito interessante. É complexo, porém a forma como minha referência modifica e põe em práticas suas ideias, os tecidos os torna simples para retirada do imaterial para o material. Inclusive, é comum que todos possam comprar e ela consiga manipular aquilo e transformar eles, muito como se fosse um plissado, mas eles têm muitos feitos holográficos, são as que eu acho muito interessante.” 

Lee Alexander McQueen faleceu em 2010 e até agora não há meios de falar de moda contemporânea e não o citar postumamente. No dia 17/03/2019 McQueen estaria fazendo 50 anos de vida ;/ Nos seus trabalhos, segundo a revista de moda Correio (2019): “ele sempre andou na fronteira entre o belo e o feio.”

 “Infelizmente ele já veio a óbito, entretanto o mesmo começou muito jovem e a marca é o nome de nascença. Ele possui um contraste, as características dele, eram paradoxais; ou seja, um tradicional inglês então pode imaginar uma vibe tradicional britânica, muito pesada, muito alfaiataria, mas ao mesmo tempo utilização de tecidos leves, assim viajando para uma parte romântica e tudo mais. O que é interessante ressaltar é que Alexander McQueen realizava uma espécie de brincadeira com a estética, assim transmutando o tradicional ou até mesmo o super tradicional, para alguma coisa mais moderna. As vezes é o blazer super tradicional, mas que ele usa umas formas, cores e estampas diferenciadas, que é uma coisa que agrada por demais minha pessoa.’’

Já o nacional, mineiro, João Pimenta (@joao_pimenta), é um brasileiro que segundo fontes que provém da Revista Catarina é “um dos nomes mais respeitados da moda masculina brasileira, é um sopro de inovação em meio a tantos outros. Ele dispensa a opção de vendas online, por gostar de ter um contato mais próximo com seus consumidores e bate na tecla do menos é mais.’’ 

Já nossa entrevistada diz: “E eu acredito que ele trabalha muito as indagações de materiais diferentes, explorando de forma heterogênea variados materiais. Acredito também, que é aquela coisa, de tipo, explorar o Brasil, a brasilidade sem ser caricato, sem ser aquela coisa assim: de novo, de novo Carmem Miranda. O Brasil não é só isso!”.

Oskar Metsavah(@oskarmetsavaht ), formando em medicina e Designer autodidata é outra referencia da nossa entrevistada.

“Ele é o fundador da Osklen, chamando sempre muito minha atenção, porque as evoluções tecnológicas na moda sempre tiveram primeiro muito ligados a guerras e depois muito ligado aos esportes; então a tecnologia de vestuário sempre estará primeira para o esporte e após entra no nosso vestuário, e este foi o primeiro brasileiro há fazer um pouco isso. Começou fazendo roupas para snowboard, salvo engano, e sabemos, para um brasileiro fazer roupa para snowboard, nada a ver (risos), mas depois, o mesmo partiu mais depressa para parte do surf, usando mecanismo tecnológico mais avançado, até mesmo porque é uma temática abordada em demasia em dias atuais, essa discussão sobre a quarta revolução industrial, o que assim como outros temas há divergência de opinião. Para alguns é apenas resquício da terceira revolução industrial. Enfim, acredito que Osklen é uma marca muito de referência global, por utilizar a tecnologia nas roupas deles, embasando suas ‘’construções’' toda embasa em estudos ecológicos, elevando o nível, utilizando e desenvolvendo couro sustentável, que é aquele que não compromete o futuro das próximas gerações. A mesma utiliza de cores que visam agredir cada vez menos o meio ambiente e trazer cada vez mais funcionalidade e conforto. Não podemos esquecer os institutos que surgiram em decorrência da Osklen e que são sustentados pela mesma, que visa o uso desses materiais ‘’diferentes’' e aprimoramento da escala de produção." 

 Com essas referencias do mundo da moda, que sempre investem em tecnologias para melhor desenvolver seu trabalho sem agredir o planeta. A nossa entrevistada se mostra preocupada com a maneira como o Brasil vem tratando os assuntos sérios. Questionada sobre como o descaso com a ciência afetaria sua futura profissão ela afirma que:

“Acho que vi provavelmente no Twitter, uma pessoa falando, e acho que é bem isso: ‘é muito incrível’, por causa da assessora que teve na Bienal a pessoa falou: ‘é muito incrível que os outros países no mundo estejam discutindo automação do trabalho, substituição da mão de obra por máquinas. aqui no Brasil a gente tá aí né (risos)! É discutindo se a terra e plana, se o aquecimento global existe e beijo gay. Eu acho muito problemático em todos os aspectos por um lado nos temos um governo que 95% das pessoas que estão ali não fazem ideia do que elas estão fazendo, nenhuma visão de nada do mundo e por outro lado, a gente tem uma oposição que não tá fazendo por onde sabe? eu acho que a nossa oposição tá muito presa em outras questões e não tá conseguindo enxergar o problema real e não tá fazendo proposições  sérias!”.

Uma matéria da Revista Exame de 2017, fala como “Tecnologia pode ajudar o Brasil a dar um salto na educação”. Trazendo dados importantes sobre como Tablets e uma internet rápida pode mudar a realidade educacional de uma cidade no interior do Pernambuco, além disso, como é problemática a realidade educacional do Brasil e como os governantes não investem em educação e tecnologia.

Por fim, a nossa entrevistada nos fala um pouco sobre o que ‘moda’ para ela:

“depende, moda é um termo que abrange um milhão de coisas, desde a comunicação visual, porque somos visuais e querendo ou não nós julgamos as pessoas pelo o que elas usam, não só no sentido pejorativo, assim que você olhar e achar que a pessoa mal ou bem vestida, mas a gente vai olha para uma pessoa e falar assim: nossa super estiloso; nossa comum; nossa deve ser advogado. tem gente que anda ai e dizem ‘nossa é advogada’, e a pessoa nem é, só pelos códigos, eu acho que tem essa questão comunicação visual, tem a questão de ser a segunda indústria no Brasil, a segunda que mais entrega, então é um movimento de capital muito grande na sociedade.”

      Redator: Isac Matinez (@martinezisac95)

Foto: João lucasCamena mostrando seus croquis
Camena mostrando seus croquis

Confira outros artigos do blog João Lucas

Os blogueiros são responsáveis pelos seus próprios textos, a linha partidária e linguística do autor não condiz necessariamente com a do portal ROTA343. Cada colunista tem liberdade para escrever, respeitando os direitos, deveres e regras de cordialidade exigidas pela empresa.

Gostou? Compartilhe!