Arquivo Pessoal

Elio Ferreira

Nasceu em Floriano, PI. Professor de Literatura na UESPI. Doutor em Letras; Pós-Doutor em Estudos Literários. Publicou mais de trinta livros.

ARIMATAN MARTINS, DA INFÂNCIA EM FLORIANO A DIRETOR PREMIADO NO TEATRO

ARIMATAN MARTINS, O DIRETOR DE TEATRO MAIS PREMIADO DO PIAUÍ DE TODOS OS TEMPOS.

ARIMATAN MARTINS: DA INFÂNCIA EM FLORIANO, NO PIAUÍ, A DIRETOR DE TEATRO PREMIADO NACIONAL E INTERNACIONALMENTE.  

Por ELIO FERREIRA

Foto: Arimatan Martins, arquivo pessoalArimatan Martins, dramaturgo, ator e diretor de teatro.
Arimatan Martins, dramaturgo, ator e diretor de teatro.

QUEM É O DRAMATURGO ARIMATAN MARTINS? 

            Queridas leitoras e leitores, nesta instigante entrevista com o diretor e ator Arimatan Martins, falaremos dos antigos “dramas” encenados nas nossas casas, dos dramas circenses, dos filmes no Cine Natal”, das memórias do rio Parnaíba, dos pais, de pessoas amigas de Floriano, que marcaram a infância, a vida e a produção dramática do diretor mais premiado do teatro piauiense de todos os tempos e da sua reconhecida importância para a dramaturgia do Piauí e do Brasil. Na adolescência, Arimatan migrou para Teresina, capital do Piauí, onde iniciou sua experiência no teatro ao lado de nomes como Tarciso Prado, Gomes Campos e outros nomes importantes do teatro piauiense de então. Quando descobriu a paixão e predileção pelo teatro, já enunciadas nas “brincadeiras de infância” em Floriano, o jovem ator desiste do vestibular para Medicina e transfere-se para o Rio de Janeiro. Ali, após a conclusão do Curso de Dramaturgia, retorna para Teresina, dando início à longa trajetória de ator e diretor do teatro piauiense. Hoje, dramaturgo por profissão, dirigiu dezenas de peças teatrais, encenadas no Piauí, no Brasil, em Portugal e em países da África de Língua Portuguesa, como Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Nesses trinta e cinco anos como Diretor do Grupo Harém de Teatro, Arimatan Martins junto ao Harém conquistaram mais de 100 (cem) prêmios no Brasil e em países do exterior, além das homenagens. O nosso entrevistado é também poeta, compositor e autor de várias canções em parceria com o músico e cantor piauiense Edvaldo Nascimento.

PARTE 1

O MENINO DA RUA SETE, QUE GOSTAVA DE CINEMA, DRAMAS CIRCENSES E QUERIA SER ARTISTA DE CIRCO PARA CORRER O MUNDO

Foto: Grupo Harém de TeatroUm Bico para Velhos Palhaços
Um Bico para Velhos Palhaços, em cena, Portugal.. Direção de Arimatan Martins.

ELIO – Meu estimado amigo, Arimatan. Sei que você tem muita história bonita para contar. Poderia falar um pouco da sua infância em Floriano e também sobre os seus pais?

ARIMATAN - Meu nome é Arimatan de Sousa Martins. Nasci em Floriano, na rua Sete de Setembro e depois fui morar na Av. Esmaragdo de Freitas, número 279, ali próximo à caixa d’água da Maria Bonita. Meu pai, Nilson de Oliveira Martins e a mãe Josefa Maria Martins, do lar. Meu pai ia ser policial militar, mas foi reformado por motivo de um acidente com explosivos. Foi reformado muito jovem e ficou trabalhando como Fiscal da Mesa de Renda. Ele era do Posto da cidade Barão de Grajaú, Maranhão-Piauí. Fiscalizava os pontões do rio Paranaíba, na travessia Floriano/Barão. Então, o meu pai, por conta desse trabalho, foi indicado para morar justamente, aí, em Floriano, numa casa, entre a Maria Bonita e o Terminal Turístico, antigo Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara. Antes disso, meu pai foi indicado também para ser Delegado em várias cidades do Piauí, tais como:  Valença, Itainópolis, Teresina, Floriano.  Tenho doze irmãos e, por isso, quase todos nasceram em cidades diferentes. Durante a construção da Barragem de Boa Esperança, meu pai foi transferido para Guadalupe, onde moramos um tempo. Fiz o primeiro ano primário no Grupo Escolar Vila Parnaíba, uma escola construída pela Mendes Júnior para todos os filhos de funcionários. Ali, havia pessoas do Brasil inteiro, engenheiros, maquinistas, arquitetos, seguranças, contadores, eletricistas, bombeiros hidráulicos. Meus amigos da turma eram filhos de engenheiro de Belo Horizonte, de mecânico de São Paulo, havia poucos piauienses na escola. Eu era um deles, eu e meu irmão Airton. Então assim, quando criança conheci o Presidente Castelo Branco, à época em que fora visitar as obras da hidrelétrica de Boa Esperança. Então, o nosso colégio inteiro foi recepcioná-lo. Nem sei se é história boa, mas eu me lembro de estar lá no aeroporto improvisado em Guadalupe para receber, recepcionar o Presidente. E a gente lá, todo inocente, sem saber o que se passava no mundo. Uma vez concluído o seu trabalho em Boa Esperança, meu pai retorna definitivamente a Floriano para cuidar do Posto Fiscal da beira do rio. Fomos morar nessa casa, construída para o funcionário que cuidava do Posto Fiscal. Moramos ali até 1976, na beira do rio, na Esmaragdo de Freitas. “Fui pego”, nasci de parteira, dona Belita, em casa. O médico, que acompanhou a gravidez da minha mãe, foi o doutor Ariosto. Inclusive, o meu nome era para ser Ariosto e depois mudou. Papai queria botar... e mudou para Sebastião Martins, porque eu nasci no dia de São Sebastião. Eu e meu pai somos do mesmo dia. Ele nasceu no dia 20 de janeiro de 1920 e morreu no mesmo dia do seu nascimento, em 20 de janeiro de 2000, aos oitenta anos. Então eu nasci no dia do aniversário do meu pai, dia de São Sebastião, mas minha mãe acabou dizendo - Não, esse aqui quem vai botar nome sou eu. Dos doze filhos da minha mãe, sou o único que ela botou nome, Arimatan.

ELIO – Quando você sentiu fruir na sua alma a paixão e o prazer pelo cinema, os dramas circenses, os dramas encenados nas casas? Como a maioria das crianças daqueles tempos, também me sentia deslumbrado pela magia dessas narrativas de infância.

ARIMATAN – Então, foi lá naquela casa entre a Maria Bonita e o Terminal Turístico de Floriano, que eu começo minha vida artística, praticamente. Eu gostava muito de cinema. Ia ao cinema praticamente todos os dias. Rezava para o filme ser “sessão livre”, que não fosse impróprio para menores de 18 ou 16 anos. Conheci Seu Agnelo. Agnelo era um velhinho que cuidava do cinema. Ele mascava assim a língua. Ele dava sempre um jeito, quando a gente não tinha dinheiro, e botava a gente para dentro. Aí eu me virava. Vendia garrafa, vendia alumínio. Eu queria era ir para o cinema, e também para o circo, para o Campo dos Artistas, quando tinha circo. Era o cinema pela manhã. Havia umas sessões pela manhã, as matinês, e tinha à tarde e à noite. Quando havia circo à noite eu ia ao cinema pela manhã para ir ao circo de noite. Queria ir todas as noites e não tinha dinheiro para ir todas as noites. Mas assim, me virava. Ficava amigo dos artistas do circo. Eles iam para a casa da minha mãe almoçar, passar fim de semana. A minha mãe ficava louca da vida. Eu dava presentes para povo do circo. Então eles viraram nossos amigos. O meu sonho era assim - um dia ir embora com o circo. Tipo sonho de artista mambembe, artista feliniano. Eu saía do cinema... Chegava em casa e reproduzia os filmes com os meninos, com as meninas, nas ruínas da Maria Bonita, antes da reforma. Isso lá no começo da década de 70. Fazia isso com meus vizinhos, a Zilma Neiva de Castro, que hoje é uma cidadã ilustre da cidade de Floriano, filha do doutor Hélio de Castro. Então meus amigos vizinhos eram ali os filhos do doutor Hélio com dona Joana, os filhos do Chichico com a Gracinha, as filhas da dona Neusa com seu Zé Luís, que é um senhor que tinha uma pensão na beira do rio. Ele tinha uma Rural Willys azul e branca. Ainda hoje, eu me lembro. Pegava as pessoas no interior do Maranhão e trazia para se consultar em Floriano. E esse era o meu elenco, além das minhas irmãs e os vizinhos de um bairro que tinha logo abaixo, antes do Bosque, que era o Buema, a Ulêla, os filhos da dona Dulce, que eram meus amigos. Todo os meninos da beira do rio eram nossos amigos, todas as classes, todas as cores, eu cresci assim, num ambiente totalmente de amizade e respeito por todos. E aí a gente reproduzia isso, a gente reproduzia esses filmes, essas brincadeiras lúdicas, que era o que a gente tinha para fazer, já que não tinha outra coisa ou lugar para a criança ir em Floriano. Então, na verdade, eu era, lá em casa, a nossa rua era a Disney florianense. Porque lá tinha um caminhão velho, abandonado lá numa blitz do posto fiscal onde meu pai trabalhava. Lá ficou preso um caminhão. Ficou retido porque não tinha documentação legalizada e tudo. Esse caminhão ficou lá a vida inteira, até ser destruído pelo tempo, pela ação do tempo. E a gente fazia um palco dessa carroceria, que ficou conservada. A gente fazia um palco, que era uma carroceria, que ficava bem defronte à caixa d’água antiga da Maria Bonita. E lá foi o meu primeiro palco ambulante. Enfim, então a minha formação artística vem daí. Eu acho, que eu não nasci. Eu estreei, já tinha essa vocação. Fui o primeiro menino a fazer drama, porque drama era uma coisa de meninas, né? As meninas que organizavam, chamavam as meninas bonitas para desfilar, fazer os números. Mas os meninos, não. Os meninos só iam assistir. Tinha uma tradição boa que você pagava ingresso para ir mesmo sendo assim mambembe, coisa de criança. Só entrava se pagasse, não entrava ninguém de graça. Comecei também a inventar dramas. Eu via os dramas nas casas, ia assistir. Já ia catar como é que era e tudo. Comecei a fazer na minha casa, usando os lençóis de cama da minha mãe. Minhas primas faziam as personagens, meus irmãos faziam os palhaços. Então eu fazia drama e circo na minha casa, com bilheteria e tudo. A janela da casa... a nossa casa era meio piramidal. Parecia uma pirâmide, a minha casa em Floriano, era azul. Só tinha uma janela muito grande, uma porta e uma janela pequena. Era uma casa com um janelão grande, uma janela pequena e uma porta. Essa janela pequena era a bilheteria. Então assim, era um fole na rua. Foi a mesma coisa, quando chegou a primeira televisão. Tinha pouca televisão na nossa rua. A televisão lá de casa... meu pai mandava botar na calçada, era uma Colorado RQ, a televisão do Pelé. Ela tinha pés de palito, era dourada, preto e pés de palito preto. Na rua, juntava... era um verdadeiro cinema na Avenida Esmaragdo de Freitas, de noite. Todas as noites entre cinquenta e cem pessoas para assistir o televizinho.

OS CIRCOS DAS DÉCADAS DE 1960-70, QUE ENCANTARAM CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS DE FLORIANO

Foto: Grupo Harém de TeatroUm Bico para Velhos Palhaços, foto n. 2
Um Bico para Velhos Palhaços, em cena, Portugal. Direção de Arimatan Martins.

ELIO – Os circos que passaram em Floriano nas décadas de 1960-70 marcaram minha infância, em especial, os dramas do Gran Bartholo Circo. Assisti quase todos os espetáculos.  Eu era muito pequeno e medroso além do normal, mas Vitorino, o meu irmão mais velho, os meninos da minha rua e a paixão pelos dramas circenses me empurravam a proeza de varar o Bartholo Circo. Um dia fui flagrado. Chorei lacrimosamente. A esposa do dono do circo, uma senhora gorda de pele branca, avermelhada, num gesto de bondade, condoeu-se de mim e mandou que o vigia me soltasse e permitiu que eu entrasse para ver o drama, O Céu Uniu Dois Corações.

ARIMATAN - No Campo dos Artistas, vi o Gran Bartholo Circo, o meu predileto, o  Circo Garcia e o Circo Tihany eram os maiores circos do Brasil, à época, pelo menos os que excursionavam pelo país. Eu ia todas às noites, porque eu adorava os dramas, eu vi lá: O Céu Uniu Dois Corações, Coração Materno, O Direito de Nascer, A Louca do Jardim, Sansão e Dalila, Rei dos Reis. No dia em que tinha Rei dos Reis, não tinha espetáculo. Só tinha o drama, porque era longo. E aí foi a primeira vez que eu vi um palco giratório que, enquanto acontecia um ato, o outro ato era preparado no fundo do palco e depois girava. Eu achava incrível aquela coisa do palco giratório, a tecnologia já assim reinando naquela época. Então, eu ia muito para o circo e como meu pai e minha mãe não me davam dinheiro para ir todas às noites, e eu queria ir toda noite, e os circos em Floriano faziam o maior sucesso, ficavam às vezes meses. Não sei se tu lembras disso. Aí eu vendia garrafa. Vendia lata. Quando não tinha mais dinheiro, nem garrafa, nem alumínio para vender, eu fazia o que? Eu seguia o cortejo do circo, porque toda criança que saía atrás do cortejo pela cidade, o maior calor, aquele monte de moleque só de calção, sujos, gritando: Ô raio sol suspende a lua, e o palhaço no meio da rua. Hoje tem espetáculo? E a meninada: Tem, sim senhor! No final do cortejo, eles carimbavam a gente. Botavam um carimbo, às vezes até de carvão, uma coisa assim. E a gente ia para o circo para entrar de graça, porque ajudava na divulgação. Tínhamos que passar o dia sem tomar banho, ou banhar com o braço para cima, para não molhar o carimbo, porque se molhasse você não entrava. Lembro disso, ainda hoje rio dessa história. E aí a gente entrava de graça, mas era escondido. Minha mãe e meu pai odiavam essa história. Se eles descobrissem, a gente levava uma surra porque andava no meio da rua, de molecagem, atrás de circo. E aquele cortejo do circo passava na frente da minha casa, no cais, ali na Esmaragdo de Freitas. Vinha pela rua Alfredo Estrela, dobrava e subia no rumo dos pontões, fazendo a divulgação. Na hora que passava na frente lá de casa, a gente se escondia, a gente ia por debaixo do cais, pela beira do rio e subia lá no final, no fim da usina de azeite de coco. Ali, a gente subia para não ser visto lá em casa. E ainda hoje me lembro... Tenho a memória olfativa. Me lembro daquele cheiro de animal de circo, de leão na jaula, de elefante, aquele cheiro assim bem forte, ardido, dos animais. Lembrei disso agora, acho importante tu tocares nesse assunto, porque esse assunto faz parte de toda uma geração ou de várias gerações de Floriano. Quem não lembra disso?

A EDUCAÇÃO ESCOLAR EM FLORIANO, TERESINA E A INICIAÇÃO NO TEATRO

Foto: Acervo de Arymatan MartinsArymatan Martins, foto do ator ainda jovem, n. 4
Arymatan Martins, foto do ator quando jovem.

ELIO – Quais foram as escolas que você estudou em Floriano?

ARIMATAN - Fiz o meu Primário no Colégio Ministro Pedro Borges, ali perto, não muito longe da minha casa. Havia muita guerrilha na época, muita briga entre colégios, atiravam pedras. Aí o pessoal do Ministro Pedro Borges chamava o pessoal do Agrônomo Parentes de “Água podre”. O pessoal do Agrônomo Parentes chamava o pessoal do Ministro Pedro Borges de “Ministro Pedro Bosta”. Me lembro várias vezes de estar na sala de aula, quando criança, e papocar uma pedra numa janela, no telhado, tinha uma coisa assim meio de capuletos e montéquios, nas escolas de Floriano. Eles disputavam, havia brigas como se fosse uma gangue de rua. Era muito estranho. Já tinha isso lá nos anos 60, essa coisa de disputa. Em outros lugares também havia essa disputa de colégio contra colégio. O tempo foi se passando. Fiz o exame de Admissão ao Ginásio para o Colégio Oswaldo da Costa e Silva. Antes, tive que fazer um tipo de preparatório, como um pré-vestibular de hoje, na dona Deusinha. Uma professora da Rua do Bandeira. Os alunos faziam uma espécie de reciclagem de preparação ao ingresso no Ginásio. Aos 11 anos, passei para a primeira série do Ginásio. Fui precoce na escola. Eu ia fazer doze anos de idade, quando passei para o Ginásio. Fiz o Ginásio no Da Costa e Silva. Depois houve uma mudança. Quando se dera a reforma do ensino, tornou-se Unidade Escolar Monsenhor Uchôa, no Campo dos Artistas, onde concluí a terceira e a quarta série ginasial.  Fiz o primeiro e o segundo ano do curso de Segundo Grau, no Colégio Industrial São Francisco de Assis, em Floriano. Em dezembro de 75, viemos para Teresina, eu e minha mãe, para fazer minha matrícula e me preparar para ingressar no terceiro ano, no Colégio São Francisco de Assis, em Teresina, na Avenida Frei Serafim. E também fazer o Curso de Eletrônica e Eletricidade na Escola Técnica, porque o Industrial de Floriano era profissionalizante. Concluí o curso de Técnico em Eletrônica do Industrial, na Escola Técnica Federal do Piauí e terminei o Segundo Grau no São Francisco de Assis. Quando me preparo para o vestibular em Medicina, conheço o teatro. Nesse mesmo ínterim, conheço dois diretores do teatro brasileiro, que estavam viajando pelo Nordeste, ministrando um curso, João das Neves e Aderbal Freire Filho, ao último devo minha formação de ator. Ele fez parte do movimento cultural e político do Brasil naquela época pesada, na época de chumbo. E aí eu começo a fazer teatro em Teresina, conheço Tarcísio Prado, conheço algumas pessoas e ali, devagarzinho, eu começo a me interessar pelo teatro e abandono a ideia de cursar Medicina. A seguir o próximo Capítulo.

PARTE 2

ELIO – São 35 anos, três gerações, uma vida de trabalho árduo e muitas produções e mais de 100 prêmios como Diretor do Grupo Harém de Teatro. Imagino o valor, que tudo isso significa para você. É algo muito sólido, um casamento duradouro, que se efetivou desde o nascimento do Harém, quando você retornou do Rio de Janeiro.

ARIMATAN - É importante essa matéria que você está fazendo, porque são os 35 anos do Harém, não é mesmo? O Harém foi criado a 12 de dezembro de 1985. Depois do projeto a Semana Chico Pereira, um projeto do Tarciso Prado para homenagear Francisco Pereira da Silva, que havia morrido em abril do mesmo ano. Retornei do Rio para Teresina em outubro de 85. Vim para Teresina estrear como diretor do espetáculo Os dois amores de Lampião antes de Maria Bonita, uma das partes da tetralogia Raimunda, Raimunda, que compõe ainda Raimunda Pinto, Raimunda Jovita na roleta da vida, e Ramanda e Rudá, escrita em 1972, em Petrópolis, dedicada a Fernanda Montenegro. Então o Harém completa agora, dia 12 de dezembro, 35 anos. Vai ter uma grande festa, lançamento do livro do Harém. E é isso, eu acho que é bem oportuno esse trabalho que você está fazendo com a gente. E de já agradeço, obrigado pela lembrança e pelo carinho de sempre. Eu também lhe amo, meu poeta predileto.

O ‘FESTIVAL LUSÓFONO’ DE TEATRO – PRÊMIOS E HOMENAGENS NACIONAIS E INTENACIONAIS.

Foto: Acervo do Grupo Harém de TeatroAbrigo São Lucas, em cena, Portugugal.
Abrigo São Lucas, em cena, Portugal. Dieção de Arimatan Martins.

ELIO – O ‘Festival Lusófono’ internacional de teatro é realizado em Teresina, capital do Piauí, pelo Grupo Harém de Teatro e parceiros do mundo de Língua Portuguesa”.  Qual o significado desse Festival para Teresina, o Piauí, o Brasil, Portugal e os países africanos de Língua Portuguesa?

ARIMATAN – Festival Lusófono é um festival internacional sem tradução por se falar na mesma língua. O Festival Lusófono é o único festival do gênero no mundo e principalmente no mundo de língua portuguesa, na lusofonia. Todos os países já tiveram suas representações, países que falam a língua portuguesa no continente, em todos os continentes. É uma rede, hoje um movimento internacional que ajudou o desenvolvimento do teatro em todos os continentes, principalmente na África, na Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, onde a atividade do teatro era mais tímida e menos presente na sociedade. Então, o Festival Lusófono é um festival feito por um grupo diletante, para não dizer um grupo de teatro semiprofissional, em que as pessoas têm outras atividades para se manter. Mantém-se esse Festival de nível internacional, de grande importância para o desenvolvimento da sociedade através da sua língua, a Língua Portuguesa, e, quando na verdade, deveria ser um trabalho, um intercâmbio cultural de Estado. Essa questão da aproximação dos países que falam a mesma língua, dos países falantes da Língua Portuguesa. Então, torna-se muito frágil esse tipo de política internacional para a união dos países dessa língua. Existem algumas instituições e entidades como o Instituto Camões, a Comunidade de Língua Portuguesa, a CLP. Há alguns organismos do governo brasileiro, do Estado para políticas de intercâmbio. Mas isso é muito pálido. Pouco se tem falado a respeito. O Festival Lusófono cumpre essa função de aproximação, de troca de experiências, de troca de know-how, troca de cultura, de arte, de mercado, de identidades. Hoje, o Festival Lusófono é o movimento mais importante do mundo para o teatro de Língua Portuguesa e, para nossa honra, é feito no Piauí, na capital Teresina, no Nordeste do Brasil, num país chamado Brasil, na América do Sul. Feito pelo Grupo Harém de Teatro e seus parceiros do mundo de Língua Portuguesa. É um movimento, é um festival superforte. Muito enraizado nessas comunidades da lusofonia e a tendência é que ele permaneça, sob crises ou não crises. Mas que permaneça, porque já criou uma raiz, já tem uma identidade, um comprometimento com todas as pessoas que se envolveram, que se envolvem e que permanecem juntas nesse projeto.

A OFICINA PROCÓPIO FERREIRA E A FORMAÇÃO DE ATORES NO PIAUÍ

Foto: Acervo do Grupo Harém de TeatroERaimunda Pinto, Sim Senhor - Elenco Original
Raimunda Pinto, Sim Senhor - Elenco Original. Direção de Arimatan Martins.

ELIO – Arimatan, você poderia falar do trabalho, cursos e contribuições da Oficina Procópio Ferreira para a nova geração de atores e atrizes do teatro no Piauí? Há algum tipo de intercâmbio, troca de experiências e cooperação entre o Grupo Harém e o ESCALET de Floriano?

ARIMATAN – A criação da Oficina Procópio Ferreira, em 1988, aproveitando os alunos de um curso de interpretação de teatro dado pelo diretor carioca Paulo Reis, diretor premiado com o Moliére, com prêmios nacionais, Paulo Reis. Eu criei a Oficina Permanente de Teatro, hoje Procópio Ferreira, batizado pela própria Bibi Ferreira, no centenário do seu pai Procópio Ferreira. Ela estava aqui, em Teresina, comemorando esse centenário do pai e batizou a nossa escola com o nome do pai dela, que é a única escola do Brasil que tem o nome Procópio Ferreira, um dos maiores atores do Brasil de todos os tempos. Então essa escola Procópio Ferreira é uma escola permanente de teatro no Piauí, antes da Gomes Campos que é mais recente. A Procópio Ferreira tem uma didática diferente de grades curriculares. Há uma formação geral com aulas de corpo, história do teatro, interpretação, prática de montagem, que é a direção e aulas técnicas de cenografia, figurino, iluminação e adereços. Era um curso que funcionava três anos, depois foi para dois anos, e agora é um curso de um ano direto, permanente, com aulas três vezes por semana. É uma escola que só monta peças de Shakespeare, para a formação de novos atores e plateia, e Nelson Rodrigues é o autor nacional escolhido para as montagens, porque são dois autores, um internacional e um brasileiro, muito bom para ensinar teatro. Então acho importante a criação dessa escola que hoje fez trinta anos, completou trinta anos na ativa, lançando grandes nomes no mercado, na cena teatral piauiense.

          A Oficina de Teatro Procópio Ferreira é uma escola quase teresinense. É uma escola para residentes em Teresina, uma escola teresinense. Não atinge o Piauí. Não tem sucursais ou filiais, entendeu? É uma escola local. Sua contribuição é ter lançado quase 50% dos novos atores e atrizes, que há na cidade. Inclusive muitos atores novos, na renovação do Harém, vêm da Procópio Ferreira. Então, a Procópio Ferreira é uma usina que abastece quase todos os grupos de teatro de Teresina. Inclusive a formação de novos grupos, como os vários grupos criados a partir da oficina. Tipo Asmodeus, o Grupo Tribo do Frank Pires, entre outros. A relação do Harém com Floriano é mais nos festivais de teatro, providos pelo ESCALET, e aqui e ali a gente é convidado para participar e, às vezes é premiado, às vezes não. Alguns atores do Harém já foram convidados para fazer personagens na Paixão de Cristo de Floriano, como no caso do Francisco Pelé. Mas é uma ocasião muito particular. Não se tem feito oficinas mútuas ou outro tipo de intercâmbio dramatúrgico. A relação do Harém com o Crispim e o ESCALET tem sido apenas nos festivais de Floriano. 

Foto: Acervo do Grupo Harém de TeatroAuto do Lampião no Além
Auto do Lampião no Além, em cena. Direção de Arimatan Martins.

ELIO – Voltemos, pois, ao itinerário do Festival Lusófono e do Grupo Harém.

ARIMATAN – Hoje existe uma grande rede da lusofonia nesse circuito onde essas peças transitam. O Harém mesmo já apresentou várias parcerias e excursões em Portugal, em Cabo Verde, na Guiné Bissau, em São Tomé e Príncipe, ao mesmo tempo em que os grupos desses lugares também já se apresentaram no continente europeu e no Brasil. Esse festival projetou o Harém internacionalmente, principalmente no teatro da lusofonia, no teatro dos países de Língua Portuguesa, onde o Harém é conhecidíssimo, famosíssimo e sempre convidado por esses países para estar presente nos eventos. Quando não pode ir o grupo inteiro, como algumas vezes, vai um ou dois representantes. O Festluso projetou demais o Harém no mundo, tanto de Língua Portuguesa como de língua não portuguesa.

A ESTREIA DE ARIMATAN MARTINS COMO ATOR NO TEATRO PIAUIENSE.

Foto: Arimatan Martins, arquivo pessoal, foto n. 5Arymatan, o jovem ator, em cena
Arymatan, o jovem ator, em cena.

ELIO – E em Teresina, como tem sido sua trajetória nos palcos do teatro e na música?

ARIMATAN - Em Teresina, tenho dois momentos no teatro e na música. O primeiro momento no teatro é quando eu conheço esses diretores de fora, que conheço a classe teatral. Nessa época, conheço todas as pessoas daquele pequeno núcleo que fazia teatro em Teresina e, nesse ínterim, conheço o Tarcísio Prado que é diretor de um dos grupos fortes aqui, na época. Mas fazia um teatro assim de vez em quando, sem muita preocupação com a estética, com as transformações estéticas. Fazia teatro para manter a chama acesa. Mas eles eram bancários. Faziam outras coisas na vida.  O teatro não era a prioridade deles. E aí eu faço uma peça com ele, com o Tarcísio Prado em 78. Estreio como ator na Revolta dos Brinquedos, uma peça de um pernambucano, Pernambuco de Oliveira e Pedro Veiga. Em 79, conheço o Francisco Pereira da Silva.  Faço também como ator, com o Tarcísio, a peça O Reino do Mar Sem Fim. Francisco Pereira vem a Teresina para assistir à estreia. Conheço pessoalmente o Chico Pereira. A peça não era muito boa. O Chico não gostou muito da montagem. - Achou que o Tarcísio foi muito rígido. Deixou a gente muito tempo parado, poderia ter usado mais a movimentação cênica, porque a peça cabia isso. Então é uma história muito interessante, tirada de um fato real. O Chico fez a peça de um anúncio de jornal. Um pai sacrificou uma filha no mar, em oferenda a Iemanjá, para poder ter fartura de peixe. Escreveu a partir do episódio noticiado. O pai foi condenado. Dessa notícia, o Chico fez a peça O Reino do Mar Sem Fim. E paralelo a isso, o segundo momento é quando conheço o Zé da Providência e o Rubens Lima. Eles estavam montando uma peça chamada O Cabeça de Cuia, inspirado no Pescador e o Rio, de Gomes Campos. Só que do Pescador e o Rio, a peça original, eles fizeram O Cabeça de Cuia. Era uma experiência com o teatro brechtiano, de Bertold Brecht. Foi o meu primeiro contato com a teoria e a prática do teatro de Brecht, que fora com o Providência, que era um lado mais moderno, mais investigativo, mais científico do teatro. O teatro para ele era levado assim, a sério, no sentido de ser pesquisado, de compreender o outro teatro que foi feito no mundo, os grandes movimentos do teatro que mudaram o teatro, as escolas de teatro, os estilos, os gêneros. Então, começou a haver um interesse científico pela arte do teatro. E eu embarco nessa. Nessa experiência que fez muita diferença, quando eu chego no Rio para estudar teatro, na década de 80, na CAL, Casa das Artes de Laranjeiras. Fiz teatro aqui, até 79. Em janeiro de 79, viajo para o Rio de Janeiro, de Fusca, com um amigo para conhecer o Rio, para saber se eu ia gostar ou não do Rio de Janeiro. Ele tinha parentes no Rio, aí perguntou se eu não queria ir. Me dava uma carona de ida e volta, se eu tivesse lugar para ficar. Fui. Peguei essa carona. Fiquei hóspede do Nassif Eliasidio, um jornalista daqui, do Piauí, que na época era presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, e depois me mudei para Copacabana. Tornei-me hóspede do Luisinho Paiva e Silva, Seu Luís, que é sogro do meu irmão e tirava férias lá sempre em janeiro. Fiquei o mês de janeiro lá, com ele, só curtindo, do bom e do melhor. Ele de patrocinador mesmo. Eu era sua companhia para ir com aos lugares. Jantávamos e almoçávamos nos melhores restaurantes, íamos nos melhores lugares. Curti muito as minhas férias. Férias mesmo de barão no Rio de Janeiro. Lógico que ficou uma boa impressão do Rio de Janeiro. Conheci o que havia de melhor. Aí volto ao Piauí e viajo no mesmo ano, em setembro, para o Rio, me mudando de vez. Fico lá o final de 79 e quando é no final de 80, volto para Teresina para fazer uma peça O Princês do Piauí, pelo Grupo Teste do Tarcísio Prado, que assim a meu ver o último espetáculo do Grupo Teste. E aí eu vim, fiz O Princês do Piauí que é uma peça do Benjamin Santos, um outro excelente autor do Piauí. Trata-se de um grande autor, renomado, premiado. Benjamin é um grande dramaturgo brasileiro de todos os tempos. Escreve muito bem, é um poeta, tem o duende, é um verdadeiro artista o Benjamin. Domina a técnica de escrever. Ele é genial. Tive essa experiência de conviver desde cedo com essas pessoas geniais, que é um grande farol ali na sua cara. Você só não via a luz se não quisesse. Eu venho, faço a peça e depois volto para o Rio. É quando, começo a fazer a CAL, fiz o primeiro mergulho teatral da CAL. Era um teste inaugural da escola. Fiz esse mergulho teatral com Sérgio Brito, aula inaugural da Fernanda Montenegro. Então, a Fernandinha Torres fazia esse curso. Na época, encontrei muito Fernanda Torres com as suas saias longas e largas pelas escadarias da CAL. Rômulo Arantes do Nascimento, que era um nadador fazendo teatro. Alexandre Frota, esse Alexandre Frota foi meu amigo de turma, no primeiro mergulho teatral da CAL. E aí eu fico na CAL, virei monitor do João das Neves e do Aderbal Freire Filho, que eram professores da CAL. A primeira turma da CAL tinha grandes professores. Domingos de Oliveira era diretor de uma turma, Aderbal era de outra, João das Neves era de outra, Alcione Araújo era de outra. Glória Beuttenmüller dava aula de voz. Então, era muito bom o cast de professores da CAL. Eu bebi tudo isso aí e acompanhei toda a evolução na música, no teatro, na década de 80. Vi o primeiro show dos Titãs no Rio de Janeiro. Vi o primeiro show do Barão Vermelho no Parque Lages, o primeiro show dos Paralamas, do Legião Urbana no Rio de Janeiro. Acompanhava geral os movimentos, as coisas acontecendo. E aí tive grandes professores, conheci grandes pessoas, grandes atrizes, entre elas Lucélia Santos, Rosa Maria Murtinho, Mauro Mendonça, Mauro Mendonça Filho, Daniel Filho, Regina Duarte, Amilton Vaz Pereira, Asdrubal, que foi meu professor também na CAL, o Amilton.

A ESTREIA COMO DIRETOR DE TEATRO – MAIS DE 150 PRÊMIOS NACIONAIS CONQUISTADOS COM O GRUPO HARÉM E A TRAJETÓRIA FORA DO BRASIL.

Foto: Acervo do Grupo Harém de TeatroRaimunda Pinto, Sim Senhor - Elenco Original
Raimunda Pinto, Sim Senhor - Elenco Original. Direção de Arimatan Martins.

ELIO – Quando você estreou como diretor nos palcos do teatro piauiense?

ARIMATAN - Quando em 85, Tarcísio resolve fazer uma homenagem ao Chico Pereira, que havia morrido naquele mesmo ano, e cria a Semana Chico Pereira e me chama. Eu tinha acabado de me formar como ator na CAL, quando Tarcísio me convida para dirigir uma das peças do Chico Pereira. Então, o Providência dirigiu Raimunda Jovita e eu dirigi Os Dois Amores de Lampião, que faz parte da tetralogia Raimunda, Raimunda que compõe a Raimunda Pinto e a Ramanda e Rudá, formando a tetralogia Raimunda, Raimunda, dedicada a Fernanda Montenegro, escrita em Petrópolis em 1972. E desde aí a peça é um sucesso, é um divisor de águas do que se fazia no teatro do Piauí, porque eu trazia toda aquela informação pop da década de 80, dos centros urbanos no mundo inteiro, toda aquela influência neotropical, neotropicalista. Harém surgiu dentro dessa diversidade, um grupo cheio dessa energia que vinha lá da década de 70 e da década de 80. Um grupo pop onde cabe todo o mundo. Todo o mundo se expressa do jeito que é, todo o mundo é o que quer ser e junto a tudo isso a gente achou uma fórmula de fazer nosso teatro que, a cada dia, a gente altera seus componentes, seus ingredientes, e o grupo permanece vivo até hoje. E daí vem essa fase do Grupo Harém, que viaja o Brasil inteiro. Viaja para a Europa, premiadíssimo, o Harém tem mais de 150 prêmios nacionais. O Harém tem assim prêmios em teatro, é recordista dele mesmo. O Harém viajou desde o Rio Grande do Sul ao Maranhão e Tocantins com o teatro, em grandes espetáculos. Teve grande sucesso, faz um trabalho de pesquisa de autores piauienses e uma linguagem do teatro popular nordestino e contemporâneo. O Harém discute o homem brasileiro, o homem nordestino, o homem piauiense sendo o centro da cena, o que nos interessa é o homem brasileiro, é o Brasil, é a cultura mundial tudo junto sem discriminação, tudo fazendo parte e ocupando o mesmo espaço, convivendo com suas diferenças e suas semelhanças. Então assim, o Harém teve um grande espetáculo popular que é a Raimunda Pinto. Esteve dezoito anos em cartaz e popularizou o teatro do Piauí. Bateu todos os recordes do teatro do Piauí até hoje. Em termos de números de apresentações, de prêmios, de temporada, de ser o primeiro a fazer uma temporada de teatro no Piauí, viagens internacionais, de número de apresentações, de anos de espetáculos, de bilheteria, assim, então é recordista disparado do teatro do Piauí em todos os tempos e vai ser durante muitos anos. É difícil de serem batidos os recordes de Raimunda Pinto. E depois, em seguida, nós fizemos O Alto de Lampião no Além, outro grande clássico do professor Gomes Campos e a peça mais montada do teatro no Piauí. A gente fez uma montagem que o Campos achava que era a definitiva, que tinha já toda uma abordagem oposta ao da Raimunda Pinto, que era mais mambembe. Nós tínhamos luz de Maneco Quinderé, o maior iluminador do país. O figurino e cenário de Bisa Viana. Tinha o acompanhamento de corpo de Lenora Lobo, Marcelo Evelin. Tínhamos uma música maravilhosa do maestro Edgar Lipo, em memória, que era dono de uma experiência com o teatro do vento forte, então toda a experiência do teatro paulistano. A Raimunda teve vários expoentes e manteve esse drive de montar autores piauienses, depois autores nacionais como Plínio Marcos. Tivemos experiência em parcerias com grupos da Europa, o teatro Almada, o teatro extremo de Almada com duas parcerias com o Harém do espetáculo do Plínio Marcos Os Dois Perdidos Numa Noite Suja e Quando as Máquinas Param. Já fizemos temporadas na Europa com espetáculos, e o Harém depois montou Garcia Lorca. Este poeta espanhol foi o primeiro autor estrangeiro, o primeiro drama estrangeiro montado pelo Harém e também com grande sucesso de público e de crítica.  Dizem que é o trabalho mais completo do Harém, para a crítica e o público. O Harém também tem um trabalho com o teatro para a criança, montou muitos espetáculos da Maria Clara Machado, Chico Buarque. Na Europa, com o Teatro Extremo, no ano 2000/2001, dirigi Os Saltimbancos, de Chico Buarque. O espetáculo fez um sucesso... e ficou três anos em cartaz. Agora, o Harém vem para fazer autoral. Estou escrevendo os próprios textos do Harém. Estou fazendo esta tetralogia do projeto.  O Harém é teatro e ciência. A exemplo, Macacos me mordam conta a história de cinquenta milhões de anos em cinquenta minutos, sobre a evolução desde os macacos até as divas de Hollywood; teatro e política que é Abrigo São Loucas I, que é um inventário sobre a política do Piauí. Agora está saindo o Abrigo São Loucas II, que é a quarentena.  Estreia agora no aniversário de 35 anos do Harém, comemorativo aos 35 anos do Harém. Três décadas e meia de atuação constante no teatro do Piauí, na cena piauiense. A Revolta das Barbies é um trabalho sobre arte e comportamento social. Este é inédito. O texto está guardado. Essa é a fase autoral do Harém, que estreia agora seu novo espetáculo Abrigo São Loucas II, A Quarentena, sobre essa pandemia.

Foto: Acervo do Grupo Harém de TeatroUm Bico para Velhos Palhaços, Portugal
Um Bico para Velhos Palhaços, em cena, Portugal. Direção de Arimatan Martins.
ELIO FERREIRA DE SOUZA. Teresina, Piauí, 15 de outubro de 2020.

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