Arquivo Pessoal

Elio Ferreira

Nasceu em Floriano, PI. Professor de Literatura na UESPI. Doutor em Letras; Pós-Doutor em Estudos Literários. Publicou mais de trinta livros.

ALERTA! O RIO PARNAÍBA PEDE SOCORRO. E AGORA? SEJAMOS ANTIFASCISTAS.

O DESMATAMENTO ILEGAL DE 3 MIL HECTARES NAS NASCENTES DO RIO PARNAÍBA.

ALERTA! O RIO PARNAÍBA PEDE SOCORRO. Nós também somos Antifascistas, Antirracistas - eu, o meu amor, você e o rio Parnaíba.

O DESMATAMENTO ILEGAL DE 3 MIL HECTARES NAS NASCENTES DO RIO PARANAÍBA

Foto: Eraldo PeresQueda d'água nas nascentes do rio Parnaíba.
Queda d'água nas nascentes do rio Parnaíba.

       O rio Paranaíba tem 1.400km de extensão das nascentes à foz, no delta, e deságua no Oceano Atlântico.  A vida do rio Parnaíba está ameaçada, um dos bens naturais, econômicos, afetivos mais preciosos do Piauí, o rio abastece de água potável, boa e dulcíssima a maioria da polação piauiense e também um número significativo dos maranhenses. Este bem tão valioso tem se tornado cada vem mais ameaçado pelo “avanço do desmatamento ilegal” e sucessivas ações criminosas contra as matas do Cerrado e  da Caatinga, localizadas nas Nascentes do rio que, certamente, comprometerão o “equilíbrio hídrico”: o escoamento das águas da chuva, das montanhas, riachos, rios, cachoeiras, lagoas, fervedouros ou olhos d’águas, águas subterrâneas etc., formadores da bacia hidrográfica do “Velho Monge”.  O fato foi noticiado em primeira mão pelo JH da tv Globo e pelo G1 através de reportagem e texto escrito com declaração de fiscais do IBAMA.

ALERTA! O RIO PARNAÍBA PEDE SOCORRO. Nós também somos Antifascistas, Antirracistas - eu, o meu amor, você e o rio Parnaíba.

        “Enquanto todo o mundo se preocupa com o Coronavírus, nós vamos deixando a boiada passar”. Essas foram as palavras cruéis, cínicas e vergonhosas do Ministro (bolsonarista) do Meio Ambiente durante a malfazeja reunião Presidencial de 22 de abril de 2020. Isso causou um grande choque aos brasileiros de bom senso. Eu, particularmente, não me senti apunhalado pelas costas, porque já percebera que pessoas desse tipo são capazes de vender a alma ao diabo. Confesso, que me senti envergonhado não por ser brasileiro, mas pelo caráter tão duvidoso em se tratando de um homem do governo, e imensamente triste ao ouvir desse Ministro de Estado, palavras tão insanas de apoio e incentivo a crimes ambientais como o desmatamento ilegal, queimadas criminosas, destruição das reservas indígenas, invasão de terras quilombolas e outras práticas predatórias do meio ambiente do nosso país, protagonizados por ruralistas ou empresários do agronegócio, madeireiros, mineradoras. Isso tem resultado no maior desastre ambiental do Brasil contra a Floresta Amazônica e áreas de reservas florestais. O cerrado, a caatinga, a Mata Atlântica, o pantanal e, consequentemente, os animais silvestres, que ali habitam, toda a flora e a fauna vêm sendo destruídos e dizimados sem dó e compaixão. Os responsáveis por essa tragédia sem precedentes não querem saber de coisa alguma. “Eles não ligam para nós”. Eles estão pouco se lixando para o nosso futuro e o futuro Planeta Terra. Eles levarão a gula e a avareza para o próprio túmulo deles. Antes, porém, planejam sorrateiramente como hienas famintas - mas que seja em vão - matar e devorar de uma só vez a “Galinha dos ovos de ouro”.  

ALERTA! O RIO PARNAÍBA PEDE SOCORRO. Nós também somos Antifascistas, Antirracistas - eu, o meu amor, você e o rio Parnaíba.

       Nos últimos dois meses de junho e julho, foram desmatados ilegalmente 3 mil hectares de cerrado e caatinga (3 mil campos de futebol) no Parques Nacional das Nascentes do Rio Paranaíba. Segundo constatação in loco, realizada por fiscais do IBAMA, o desmatamento se dá por meio de “correntões”, arrastados por tratores que arrancam pela raiz a vegetação de pequeno, médio e grande porte. A operação é devastadora. Para se ter uma ideia, acesse no Youtube o vídeo “Quebrando com correntão”.

 “Já perto do Parque Nacional das Nascentes do rio Paranaíba, na divisa do Tocantins como o Piauí, 100% da terra que deveria ter a vegetação conservada, foi desmatado, segundo o órgão. Os fiscais encontraram um lixão em parte da área” (gl.globo.com; G1 Tocantins). A licença apresentada pelos responsáveis pelo desmatamento “está vencida desde 22/01/2017”, o que caracteriza sua ilegalidade. O pior de tudo é que a tragédia foi consumada. Mas isso não significa, que os criminosos continuem imunes às penalidades, como tem acontecido à maioria dos casos semelhantes a esse. Tragédias desse tipo não podem mais ser repetidas. O Governo do Piauí e o Governo Federal devem tratar “com mais rigor” crimes tão graves como esse. É da responsabilidade da sociedade piauiense e de todos os brasileiros, que reivindiquemos uma resposta urgente e a aplicação de penalidades cabíveis aos infratores/criminosos. O bom senso, o compromisso e a civilidade rezam também que os representantes do Piauí junto à Assembleia Legislativo do Estado, ao Congresso Nacional e ao Senado Federal não podem e não devem ficar alheios a esse crime ambiental de dimensões trágicas, que pode afetar grande parte da população do Piauí.   

Foto: Eraldo PeresCorredeira do Rio Parnaíba
Corredeira do Rio Parnaíba

ALERTA! O RIO PARNAÍBA PEDE SOCORRO. Nós também somos Antifascistas, Antirracistas - eu, o meu amor, você e o rio Parnaíba.

      Olho o rio Parnaíba, o meu velho amigo, antigo como os rios da Mãe África. Aqui em Teresina e Floriano, vejo-o  definhando a cada dia que se passa. As erosões causadas pelo desmatamento das suas nascentes e das nascentes e matas ciliares da sua bacia hidrográfica, como têm afirmado os estudos e pesquisas sobre os recursos hídricos do Piauí, são agentes que comprometem o equilíbrio hídrico do meu velho amigo. Ah, como presenciamos e participamos de tantas manifestações em favor do salvamento deste rio.  Muitos piauienses têm se empenhado nessa luta. Isso acontece, geralmente, durante os anos ou períodos de águas e chuvas escassas, quando o Paraíba fica meio esquálido e a calvície se agrava, e a ossadura fica mais a vista. Passado esse período, caímos outra vez no maléfico esquecimento brasileiro – no “deixa pra lá”, ao deus dará, no fica para depois.

       Em Floriano, na minha infância, havia dezenas de riachos. Minadouros, olhos d’águas ou fervedouros jorravam sob os buritizais de riachos da minha cidade. Eram comums a existência de olhos d’água nos riachos que hoje se tornaram esgotos ou foram soterrados. Creio que essa tragédia ambiental acontecera a muitas cidades e mesmo nas pequenas cidades do interior do país. O problema não é de hoje. Mas nada, absolutamente nada se tem feito para que se evitasse tal ruína, que se anuncia de fato e, pior, passou a conviver ironicamente com todos nós. Até aonde sei, quaisquer políticas efetivas para salvar o rio Paranaíba e afluentes inexistem, tanto por parte de governos estaduais, quanto do governo federal. Do governo federal, nem se fala. Lamentavelmente, como é sabido de todos, o falastrão e falso governo “nacionalista” do Brasil tem se revelado um grande incentivador e “destruidor implacável” da Floresta Amazônica e das reservas ambientais do nosso país.  

ALERTA! O RIO PARNAÍBA PEDE SOCORRO. Nós também somos Antifascistas, Antirracistas - eu, o meu amor, você e o rio Parnaíba.

Amável leitor e leitora, aqui quase encerramos a nossa conversa. Ah, parece que estamos sempre no recomeço, no começo de tudo. Gostaria de dividir um pouco das minhas experiências, angústias e a crença de acreditar sempre de que somos capazes de fazer alguma coisa pelos nossos próprios sentimentos e gerações futuras. Permita-me ainda, contar-lhe um pouco da minha amizade com o rio Paranaíba. As primeiras lições de boa convivência com a natureza, aprendi com o meu pai, o mestre Aluízio Ferreira, o meu grande mestre, ferreiro e bombeiro hidráulico, de quem aprendi a magia e as ciências do ferro, do fogo, da terra e das águas. Anos mais tarde, depois de viver em Brasília, aprendi da militância nos movimentos culturais e ecologistas em defesa da fauna e da flora do pantanal mato-grossense, e também com a poesia de rua e confronto e o teatro, quando vivi durante quatro anos e meio em Campo Grande (MS). Retornei a Floriano, em fevereiro de 1985. Ali me juntei a amigos como o Prof. Luiz Paulo, Nilson Coelho, a AFÉ Caipora, o Movimento Cultural de Floriano, juntamente aos membros do último editamos e fizemos a locução coletiva do programa de rádio Quintal Aberto, popularmente “Fundo de Quintal”. Empreendemos campanhas educativas de reflorestamento e preservação das matas ciliares do rio, como a distribuição de milhares de mudas de plantas frutíferas e vegetações nativas, em Floriano, durante atos públicos na beira-rio. Mudei para Teresina nos primeiros dias de 1990.

De 2000 a 2010, na capital do Piauí, protagonizamos na primeira sexta-feira de cada mês a RODA DE POESIA & TAMBORES, no Espaço Osório Jr, no Clube dos Diários, anexo do Teatro 4 de Setembro, em Teresina. Naquela década de ouro da poesia do Piauí, as noites de poesia transcorreram a todo o vapor com participações musicais, performances, teatro, dança, capoeira, lançamentos de livros, revistas, cds etc. A Roda de Poesia tornara-se o lugar mais efervescente da cultura do Estado. Entre outras manifestações, relacionadas aos direitos do negro, do indígena, da mulher, do LGBTQ+, outra questão encampada pelos realizadores e frequentadores da RODA DE POESIA & TAMBORES foi a defesa do rio Paranaíba e da Serra Vermelha. Neste item, tivemos a força, a parceria e diligência da querida amiga e ambientalista Tânia Martins que, na ocasião, escreveu um inteligente artigo para o Número 1, Ano 2008, da REVISTA DA RODA DE POESIA & TAMBORES. Por fim, termino a conversa da semana com a transcrição de trechos do texto já anunciado e o poema “O negro fala da Serra Vermelha”. Escreveu a jornalista Tânia Martins:

“Não desvalorizando outros oásis encravados no Piauí, mas a Serra Vermelha é, sim, o mais importante e valioso tesouro natural dos piauienses. Cheguei a essa conclusão ouvindo por dois anos pesquisadores, ambientalistas, o povo do lugar, além de leituras de relatórios, nota técnica e leis. A área, segundo levantamento do Ministério do Ambiente, é prioritária para a conservação por abrigar uma das maiores biodiversidades do interior nordestino”.

Foto: Arquivo PessoalElio Ferreira
Elio Ferreira

O NEGRO FALA DA SERRA VERMELHA

                      Para Tânia Lima e Tânia Martins

Serra Vermelha,
Serra do Quilombo.
Canto aos orixás, caboclos e espíritos da floresta,

Canto ao Deus da chuva, do sol, dos rios e protetores da terra.

Canto ao Deus dos homens, ao Deus das mulheres, dos bichos e da natureza.

Serra Vermelha, um Paraíso Verde.

Vi a mata virgem virando carvão,
manchando o céu azul de cinza e fumaça.

Serra Vermelha, a última floresta de carrasco do planeta.

Floresta de caatinga e Mata Atlântica pulsando nas artérias do meu coração.

Serra Vermelha,

O último pantanal no Nordeste brasileiro.
Nascentes de rios.

Rio Gurgueia, Rio Rangel, águas que correm para o Rio Parnaíba

O rio que passa na minha cidade.

De dia, o rio reluz, tem água barrenta e boa.

De noite, o rio mora na minha pele escura, desliza silencioso, é uma sucuiuiú,

Uma cobra sucuri serpenteando para o mar,

Vai separando o Piauí do Maranhão até desaguar no Atlântico.

Serra Vermelha,

Vi os animais em alvoroço sem ter para onde ir.
Serra Vermelha

Tem onça suçuarana, maçaroca e tatu.
Tem veado, cotia, anta, jaguatirica e caititu.
Tem macaco, anta, guariba, sagui e gambá.
Tem camaleão, cobra, jacaré, jabuti e tamanduá.
Tem seriema, iúna, tucano, carcará e gavião.
Tem pato, marreco, juriti, bem-te-vi e cancão.
Tem garça, papagaio, periquito, jandaia e jacu.
Tem chico-preto, sabiá, azulão, beija-flor e arara-azul.
Serra Vermelha,

Um paraíso de “alta biodiversidade” no sul do Piauí.
Canto aos meus Orixás.

Canto ao Deus da chuva, do sol, dos rios e da floresta.

Canto ao Deus dos homens, ao Deus das mulheres, dos bichos e da natureza.
Serra Vermelha,
Terra do povo Quilomboico,
De crianças, homens e mulheres remanescentes do Quilombo dos Palmares.
De migrantes da Bahia e de Minas Gerais.
Serra Vermelha,
Serra do Quilombo.

ELIO FERREIRA. Teresina, 2 de agosto de 2020.

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